ERA UMA VEZ UMA HISTÓRIA! A MINHA

Há um dia em que sais de casa, a caminho de mais uma história e a tua vida muda para sempre.
Muda no momento em que não morres por uma fracção de dois segundos.
Muda a partir do momento em que percebes que a morte é real e não acontece só aos outros. Que chega tantas vezes de forma inesperada e injusta.
Muda porque sabes que tiveste uma sorte do caraças em continuar à superfície e não a uns palmos bons debaixo do chão que continuas a pisar todos os dias.

Ironia da vida é saber que a morte esteve tão perto quando ías a caminho de uma festa para celebrar a vida!
Interpreto como um sinal! Que medo não é insegurança de arriscar, que medo não é saltar sem certeza no chão debaixo dos pés, que medo não é o receio de falhar ou de não fazer tão bonito. Medo é um outro sentimento. O que te assola e desnorteia, que te faz parecer de filme a imagem que acabas de presenciar ao vivo e a cores. Medo foi o que senti quando descobri que não morri desta vez. O escolhido terá sido outro.

Falamos nisso ainda, demasiado quase todos os dias.
O barulho. Aquela mancha verde vinda não se sabe de onde, a rodopiar descontrolada no ar e a cair uns metros à nossa frente. Pedaços de plástico, de rails, de borracha a voar em todos os sentidos. Um tejadilho amolgado numa queda aparatosa contra o chão. O barulho do contacto com o chão. Aquele carro desfeito que não nos acertou porque não era para ser assim. Os airbags insuflados de fora do que, há minutos atrás, foi um par de janelas.
O medo! De espreitar. De saber.
O foco nas perguntas sobre “localização exacta”, “número de vítimas”, “necessidade de desencarceramento”.

Hoje ainda estou viva.
Poderia escrever sobre sessões bonitas e esta paixão de fotografar ou até sobre a vontade de mudar tudo e começar de novo. Uma nova aventura com outras histórias.
Mas decidi escrever só sobre a vida que ainda é minha! E da vontade de a viver!

Lá em cima, a quem olha, acompanha e ampara, obrigada!
Ainda estou viva.

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