Quando era miúda tinha sempre uma agenda onde, estranhamente, não constavam datas de testes ou de eventos mais relevantes, mas que funcionavam como um misto de diário e de repositório de momentos felizes.
Guardava bilhetes de lugares que visitava, notas que trocava com os colegas… lembro-me que tinha até quem desenhasse ou escrevesse na minha agenda a pedido, uma espécie de dedicatória ou de “desenha aí” só porque sim.
Coleccionava momentos felizes na ingenuidade e inocência de quem só respira e vive e não precisa de muito mais.
Depois tudo mudou, nos tempos de faculdade as agendas sofreram o embate com a realidade, a minha. No fundo acho que fomos de mãos dadas, eu e as agendas, contra a parede de ser adulto, das datas, das responsabilidades, das coisas que não podem falhar ainda que tudo o resto falhe.
Vieram os trabalhos de gente crescida e sempre datas a somarem-se a datas, quase sem dar conta de que o tempo passava e que todas as outras coisas, as que na realidade importam, ficaram sem lugar nas páginas da agenda.
E tudo agravou com a dedicação total a um sonho que é agora a maior e mais exigente aventura da minha vida, este projecto, a Terra. Quando a responsabilidade é só nossa, as nossas costas vergam perante o peso e as páginas das agendas enchem-se de datas de sessões, casamentos, reuniões, listas e listas e mais listas… na maior parte das vezes listas de coisas que não se fazem, porque os items aguardam pacientes, mas nunca chega a vez deles. Quase como ter o número 436 na fila de espera e o ecrã mostrar o 2 como número de chamada!
Chegou o momento do ponto final.
Redondo, quadrado, bem desenhado ou em rabisco, o ponto final tem o número 1 e foi chamado.
Anda daí ponto, é a tua vez!
Vou revirar o baú das memórias e encontrar um bocadinho da ingenuidade e da inocência de quem só respira e vive e não precisa de mais nada.
Vou continuar a apontar minuciosamente todas histórias e todos os detalhes de todas as histórias que conto, contei ou ainda me faltam contar, mas, muito mais do que isso, vou recuperar a minha agenda como repositório de momentos felizes.
Porque se os momentos felizes são isso mesmo, momentos, hiatos de tempo que passam num piscar de olhos, é muito fácil que nos esqueçamos deles, ou que simplesmente nem lhes demos a importância que merecem.
Momentos felizes, vocês importam!
Momentos felizes, breves, mais longos, um piscar de olhos, vocês são meus, a minha espécie de benção por todas e tantas pedras do caminho.
Momentos felizes, jamais serão esquecidos!
“ 13 de Março de 2016
BARCELONA
HOJE…
… comi tapas com os amigos!
… matei saudades da minha cidade!
… não quis voltar para casa!”
E as melhores tapas deste mundo e do outro (sim, há tapas no outro mundo!) são na Pepa Tomate. Se forem até lá, levem-me que eu vou. Mesmo. Nem que seja a pé!
17 de Março de 2016