INFLUENCER... MAS POUCO!

Deve ser a “profissão" mais badalada do momento e não é de estranhar quando se pergunta a alguém o que faz ouvir um “sou blogger” ou “sou instagrammer” ou “sou influencer”.

São os tempos que vivemos em que novas plataformas criaram novas profissões e, até ver, nada de errado nisso, certo?

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Há alguns meses assinei um contrato com uma marca para a criação e divulgação de alguns conteúdos. No lugar de “a contratada”, “a fotógrafa”, “a criadora de conteúdos” ou simplesmente “a Lúcia” (que sou eu… olá para quem não me conhece!!!) a minha designação vinha como “a influencer”. Fiquei na dúvida entre pedir que alterassem a designação ou simplesmente ignorar por não achar que fizesse grande diferença no contexto da sua aplicação.

Mas claro que isto me trouxe assunto para ficar a remoer. Afinal que nova “profissão” é esta para a qual não me formei e decidiram, ainda assim, atribuir-me o título?

Um influencer será quem, pelo seu estilo de vida, inspire outros, alguém que pelas decisões que toma no dia a dia, pelas acções que pratica ao longo da vida, pelos gestos e posições que assume perante si e o próximo seja um exemplo a seguir? Será alguém que por uma determinada situação ou transformação, ou até mesmo por uma tragédia, tenha re-orientado a bússola a um novo norte e ajudado alguém pelo caminho? Ou será alguém que por trabalhar na área da criação de conteúdos, seja contratado para esse fim, ou que por ter um número astronómico de seguidores se torne um veículo interessante para promoção e divulgação de marcas e produtos?

Este é o momento em que estarei de acordo contigo ou não mas, ainda assim, acredito que ambas as opções são válidas e perfeitamente fundamentáveis!

Para mim não há qualquer dúvida que é influencer quem o faz quase sem querer, e não quem é contratado para vestir a camisola de uma marca ou, dito muito a cru, vender um produto.

Não me considero, de todo, uma influencer, falta-me ver muito, conhecer muito e aprender ainda muito mais para me sentir no conforto do lugar de quem, sem querer, dá o exemplo, inspira e influencia. Claro que há pequenos momentos da minha vida, algum gesto, alguma palavra proferida que podem mudar o curso da vida de outra pessoa, mas isso qualquer um de nós pode fazer! Não é por aí!

Quando crio conteúdos ou divulgo uma marca estou longe de ser uma influência. Estou simplesmente a experimentar um produto e a formar uma opinião, baseada no meu gosto e na minha experiência pessoal, e a criar mais valia de conhecimento para quem pense adquirir o mesmo produto. E estou, em última instância, a ser paga para o fazer! Mas também há as outras vezes, que são a maioria, em que simplesmente partilho alguma coisa não no sentido comercial, mas porque faz parte da minha vida, me surpreendeu de determinada maneira, porque gostei do serviço, etc. Daí a ser uma influencer… vai este mundo… e mais três!

Vejo muitas pessoas demasiado preocupadas com o número de seguidores, o número de likes, o número de comentários… vivem numa espécie de página do Excel em que tudo é um número.

E vejo, neste mesmo contexto, instagrammers que eram uma inspiração, que criavam conteúdos de uma forma livre e criativa, que neste momento se subjugaram ao peso dos números e transformaram os seu perfis em verdadeiras montras de produtos, qualquer produto, indiscriminadamente! Algumas destas contas fui deixando de seguir. Na minha opinião muito poucas pessoas ligam a televisão para ficarem a ver anúncios e era o que sentia em relação a seguir estas contas.

Cheguei a receber comentários de pessoas a achar que eu estava a embarcar neste bote da publicidade e me estava a “vender”, que tinha cedido à tentação de transformar o meu instagram num negócio, recheando assim a minha conta bancária. Não aconteceu! Não vai acontecer!

O que aconteceu foi que algumas marcas de produtos que uso me convidaram a falar sobre eles, a partilhar a minha experiência… e se eu já usava estes produtos, pareceu-me ser uma combinação perfeita!

Não me verão a falar sobre um refrigerante porque não os consumo ou a sobre bolachas que escorrem cascatas de chocolate à medida que as devoramos porque também não fazem parte do meu dia, da minha rotina…! Ou se calhar até fazem e eu ainda não sei, mas o caminho será de experimentar porque quero, na minha liberdade de quem descobre coisas novas todos os dias e não porque alguém me quis impingir a oitava maravilha do mundo a troco de uns trocos. E isto ainda me traz nova reflexão… até que ponto se promovem e divulgam marcas e produtos a troco de produtos? Ficará para um outro post!

Continuo pois assim… influencer, mas pouco! Muito pouco!