Do outro lado do mundo.
Surpreende-nos esta paisagem de uma natureza incrível a dar o seu melhor. Esta diferença de temperatura que deixa o corpo na dúvida perante uma mudança tão drástica.
O céu carrega-se de negro e chuva, decorado com relâmpagos desenhados a luz, ou aclara-se em azul e sol deixando-nos a desesperar por uma nuvem que nos salve ao calor.
A humidade adensa o ar, tornando os cheiros mais intensos. Cheira a verde e a terra.
Estamos num lugar impossível de imaginar.
Confirmam-se as palavras que ouvimos antes de vir: “esquece tudo o que já viste, aquilo é outro mundo”. É.
Mas mais do que as paisagens de postal, são as pessoas. As pessoas como o melhor lugar de todos os sorrisos e afectos.
Deixei o grupo para trás e desci à praia. Os miúdos brincavam. Dão a paisagem como certa e passa-lhes despercebida. Não sabem que do outro lado faz frio e a natureza não foi tão generosa. É deles, num lugar tão pobre, uma das maiores riquezas: o tempo.
O tempo de brincarem, de serem livres, de serem crianças.
Esticam a mão e não tenho nada para lhes dar.
Abrem o sorriso. Sempre o mesmo sorriso de uma sinceridade que dói. Um sorriso que não cabe na cara, que acolhe. Apontam a máquina e pedem uma fotografia, esquecendo tudo o resto que lhes poderia dar.
São crianças.
Só crianças.
Só queria regressar a este lugar e devolver-lhes a foto que me pediram. São eles. É deles.
Entregar-lhes uma moldura bonita que mais que embelezar a simplicidade da casa lhes emoldure o sorriso.
Não são as águas turquesa, as areias brancas e uma das setes maravilhas do mundo, os melhores dos passaportes de visita deste lugar, são os sorrisos de quem do pouco que tem escolhe dar sempre tudo.
A editar, a escrever, devolvo-lhes o sorriso.
Porque tudo o que lhes possa dar parece tão infinitamente pobre e pequeno tamanha a generosidade com que sorriem.
Talvez nunca mais os volte a ver.
Mas ficam assim, comigo para sempre, neste momento em que fomos TODOS tão felizes.
Foi fácil, escolhemos sorrir!