CASAS CAIADAS - ARRAIOLOS

Sabes quando procuras um lugar de paz?
Um sítio onde deixas o mundo para trás e só estás?

Foi tudo o que procurámos neste lugar.
Pais de gémeas, sempre na conta de dois para dois, o desgaste e o cansaço acumulam de dia para dia. E, apesar de estarmos sempre juntos, podermos estar juntos noutro lugar parece tornar-nos mais nós, criamos laços mais fortes, os colos são mais demorados… tiramos prazer das pequenas coisas, rimos mais, brincamos mais, vivemos mais.
Talvez porque não há cama para fazer… talvez porque o pequeno almoço aparece já na mesa… talvez.

As Casas Caiadas deram-nos tudo isso e ainda nos encheram de inspiração.

Que lugar é este afinal?
Uma casa tipicamente alentejana, no coração da bonita vila de Arraiolos. Não se acerta no caminho à primeira e até isso lhe dá o seu encanto.

Somos recebidos extraordinariamente pelo Sr. Mário, um mundo de histórias para contar, tempo para ouvir, sempre disponível (mesmo quando a nossa porta deixou de funcionar e ele teve de andar a saltar de varanda em varanda para nos permitir novamente o acesso!). E percebemos de imediato que aquela casa não é só casa de hóspedes, não é só turismo, não é negócio… é amor.
Um espaço incrível. Uma arquitectura despretensiosa, honesta. Não há ruído visual, tudo é harmonia e silêncio. E o meu olhar agradece a generosidade de tanta beleza! A decoração sóbria, cheia de detalhes bonitos e peças únicas que, perante duas miúdas irrequietas, sempre de um lado para o outro a ver, a mexer, me fizeram temer o pior.

Quantas vezes já senti aquele olhar de quem condena por ver chegar um casal com dois bebés? Se recebesse um euro por cada uma dessas premonições de desgraça nos olhares e dedo alheio apontado, não estarias a ler isto porque eu andaria pelas Bahamas a torrar o corpo ao sol.
Ao Sr. Mário, bem como a qualquer uma das pessoas que nos recebeu, acolheu e cuidou de nós para que nada nos faltasse, a presença das irrequietas Alice&Benedita não lhes arrancou um único suspiro ou um pestanejar sequer! Sempre cuidadosos, com uma palavra amiga ou um elogio às miúdas, sempre cuidadores para que tivessem à disposição a fruta que gostassem mais ou alguma coisa que precisassem para estar bem.
A D. Mónica que nos trocou a cama após um pequeno percalço nocturno (pais de bebés entenderão!) sempre com um sorriso, com uma palavra amiga, a partilhar a sua experiência de vida com os seus. A partilhar a sabedoria de quem sabe que o tempo passa. Tudo passa. A relativizar a importância do que pouco importa para dar lugar, espaço e tempo ao fundamental.
Acredito que são as pessoas que fazem os lugares. Que há muito que “casa” deixou de ser um lugar exacto e físico, mas um conforto no lado esquerdo do peito que nos proporcionam as pessoas que amamos, que nos amam, que cuidamos e que nos cuidam, ainda que por um curto período de tempo. Aqui senti-me em casa!

Depois o lugar. O físico. O espaço.
Que lugar!
Se me entregassem a chave desta casa acho que nem me demoraria na tarefa de fazer malas, ía directa rumo a uma vida nova. Ía. Já. Agora.
Sou uma apaixonada por palavras e, ainda assim, não as encontro para descrever todas as sensações que este lugar tão incrível me proporcionou. Uma fonte de inspiração onde quero voltar a beber. Um lugar que enamorou a minha visão de arquitecta que nunca me abandonou. Sabem aquelas pessoas que quando vêem crianças sentem um chamamento maior para serem mães ou pais? Eu sinto um chamamento maior para criar, para fazer acontecer, para ir, quando estou em lugares assim.

Por partes!
A zona de estar a acolher-nos na penumbra fresca de um dia de 35º, o sofá a convidar-nos para ali ficar a contemplar. Uma coluna sempre a dar-nos o embalo para o slow living, aliás, acho que este foi o objecto eleito pelas miúdas! Apaixonaram-se pela coluna, pela música…não sei. Mas dançavam, abraçavam a coluna, contemplavam-na com verdadeira paixão.

A cozinha que me arrancou suspiros.
Cheia de detalhes, a convidar-nos a ficar.
Uma cozinha que lembra avós, água fresca na torreira do sol de verão, um chá quente nos invernos que aqui são rigorosamente incríveis.

Tivemos a sorte de ficar num quarto com três divisões: quarto, sala e uma casa de banho. Então decidimos que a sala mais pequenina seria quarto de brincar e ficaríamos os quatro no quarto de dormir, grande o suficiente para que coubessem dois berços e ainda assim sobrasse espaço para tudo o resto.
Do quarto o acesso a uma varanda aberta sobre Arraiolos. Pelo calor e pelo que nos esperava na cobertura, mal usámos esta varanda. Deu jeito para secar toalhas e fatos de banho da piscina… e para entrar quando a porta deixou de abrir!!!
E mesmo sabendo que teríamos dois bebés pequenos, numa idade típica para o disparate, nenhum objecto foi retirado do quarto.
Por momentos pensei em pedir para retirarem algumas coisas para que sobrevivessem intactas à nossa passagem, mas educar é também um exercício de confiança. A mesma confiança que depositaram em nós ao nos acolherem, depositámos nelas para quem percebessem o limite do que poderiam explorar.
Correu tudo bem!

O melhor estava “escondido” no último piso.
Eu suspirei, elas encontraram o céu. Um pátio com uma piscina e a promessa de tempo ganho. Aqui cada minuto demorou-se para além do que o relógio marcou.
Acho que foi o sítio onde estivemos mais e onde ficaríamos não fossem as exigências humanas de comer, dormir, etc.
Perdemos a conta aos mergulhos sob o calor alentejano que não perdoa.
A alma lavada, mente em paz, o corpo leve. As corridas de pés descalços a escorregar no chão molhado e, mais uma vez, uma coluna para que cada um destes momentos não ficasse sem a devida banda sonora.

Certamente que já ouviste a famosa frase "onde não puderes amar, não te demores”.
É aqui o lugar! Fica!
Querida bisavó, a minha costela alentejana que perpetuo a cada regresso e que me faz querer sempre mais. Há mais tempo no tempo aqui no Alentejo.
Voltaremos com toda a certeza!

ONDE
Arraiolos, Alentejo
A cerca de 110km de Lisboa.

QUANDO
No Alentejo os verões são intensos e os invernos rigorosos.
Mas diria que este lugar tão especial é o sítio certo para qualquer uma das estações!
Nós fomos em Agosto, o calor apertava.
Mas voltaríamos em qualquer altura.

PORQUÊ
Pelo lugar, pelo espaço, pelas pessoas.
Este é o lugar certo se procuras um lugar para descansar o corpo, a alma e o olhar.
Aqui o único ruído é o bater do coração enquanto o olhar divaga e se perde. Alentejo sendo Alentejo!
Fica perto de Lisboa (se este é o teu ponto de partida), está mesmo no coração da vila com tudo o que possas precisar para não sair mais daqui.

O MELHOR
As pessoas. A beleza do espaço. A sensação de paz, silêncio e tranquilidade.

O PIOR
Ter de voltar, conta?

Para quem tem crianças o aspecto menos positivo é o facto de não termos espaço e acessibilidade garantidos para ter um carrinho.
É impossível levar o carrinho para o quarto, até porque o acesso é feito por escadas.
Mas, mais uma vez houve compreensão e permitiram-nos aceder com o carrinho pela porta da cozinha, directa para a rua, e deixar o carrinho nos arrumos/copa de apoio durante a noite o que facilitou muito as saídas.

Outro aspecto é o facto de não ter estacionamento e, comunicando com uma rua pedonal, o carro acaba por ter de ficar mais distante.